Pequenos gestos, que realizam sonhos de criança!
Poderia começar assim esta história mas, sinceramente, o que sei sobre o seu protagonista ou o seu percurso é muito pouco.
Foi, num dia normal de trabalho, que um menino chega à Receção da Escola… Tão pequenino que se não me tivesse levantado da cadeira nem o conseguia ver, isto porque também sou pequenina, é um facto (risos). Ele era magrinho, com um tom de pele invejável, uns olhos cor de mel grandes e carregados de sonhos – no entanto, perdidos de medo, de uma criança que parecia já ter sofrido demasiado para a idade que efetivamente tinha.
Dois minutos de conversa com o familiar que o acompanhou à nossa Escola foram suficientes para perceber que a minha opinião estava correta. Descobri, inclusive, nessa conversa que a chegada dele a Portugal era muito recente. Esta criança tinha vindo para Portugal porque foi abandonado pela mãe, tendo então ficado a cargo daqueles familiares que até à data nunca tinham convivido com ele.
Demasiada bagagem de emoções para um coração tão pequenino.
Um menino acanhado, tímido, observador e, acima de tudo, calado e incapaz de esboçar um sorriso.
Com o tempo, consegui perceber que, ele veio ganhar mais uma família. Chegou a um sítio onde, através da dança, podia juntar os pedaços daquele coração partido e voltar a colá-los.
Sempre que entrava num estúdio, para mais uma aula de dança, o menino acanhado e tímido transformava-se completamente! Apesar do sorriso continuar difícil, empenhava-se para acompanhar os colegas, dançava ao som da música e mantinha-se no seu Mundo a observar o comportamento dos outros meninos.
No final da sua primeira aula, a pessoa que o vinha buscar atrasou-se. Quando dei conta, ele estava encostado à porta da sala já com as lágrimas nos olhos e certamente mergulhado num único pensamento - "Fui abandonado outra vez..."
Não consegui ficar parada! Dirigi-me a ele e convidei-o a sentar-se numa cadeira que tinha vazia ao meu lado dentro da Receção, acenou com a cabeça e veio atrás de mim. Queria tentar de tudo para que ele dissesse, pelo menos, uma palavra. Foi quando lhe ofereci gomas, que ficou a olhar para mim com ar de hesitação, não me queria estender a mão e ficou com ar desconfiando como se nunca tivesse visto aquilo. Só lhe disse – “Podes provar, é bom!”, lá conseguiu pegar na goma e provar… Pelo olhar dele e ar de satisfação enquanto comia, percebi nitidamente que nunca tinha provado algo parecido.
Esteve sentado ao meu lado, alguns minutos, sempre muito observador e sem dizer uma única palavra até ao momento de se ir embora.
Tenho e sempre tive uma grande admiração, paciência e amor pelas crianças. Esta, em particular, conseguiu conquistar a minha atenção, mantendo-me atenta ao desenvolvimento dele. Quando ia ao estúdio, confesso que tinha sempre a tendência de lhe fazer uma festinha na cabeça, fui observando a forma como ele ia saindo do “casulo”.
Qual não é o meu espanto quando, passados uns dias, pela primeira vez, no espaço de 2 meses… OUÇO A VOZ DELE! - "O meu avô está atrasado, posso esperar aí à tua beira?" - Uma frase tão simples, seguida de um sorriso e que foi suficiente para derreter o meu coração. Fiquei tão, mas tão feliz por finalmente ele ter falado comigo! De coração cheio, deixei-o sentar à minha beira e, do nada, começa conversar comigo sobre a Escola e a rir-se comigo. Tinha noção que aquele olhar ainda carrega tristeza, no entanto, naquele dia começou a ter um brilho diferente. O ar desconfiado e observador começava a transformar-se num sorriso acanhado e puro.
Com pequenos gestos, sentia que tinha conquistado a confiança dele. Talvez as minhas atitudes perante a chegada dele à nossa Escola, o tenham ajudado a curar algumas feridas e talvez, por isso, o momento em que conversou e sorriu comigo tenha sido a forma dele me agradecer.
Dentro das nossas instalações, esta criança sente-se segura, sente amor, carinho e confiança.
Provavelmente o protagonista desta história nunca chegará a ler isto e, provavelmente, nunca saberá que me estou a referir a ele em concreto. Contudo, são estes pequenos guerreiros e estes momentos que me fazem encher de orgulho em fazer parte deste projeto.
A mim, só me resta agradecer – Obrigada! Obrigada pelas palavras, pelos sorrisos e pela confiança que depositaste em mim.
Que se desengane quem pensa que isto é apenas uma “Escola de Dança” em que, simplesmente vendemos aulas de dança. O produto que vendemos inclui amor, dedicação e confiança… E isso… Isso não tem preço! Essa mistura de sentimentos e emoções é impagável.
Comentários
Eduardo Holanda - Liquid error (snippets/template--article__comments line 10): The format option 'month_day_year' is not a supported format.
EMOÇÃO
💛💛💛💛💛💛
Conceição Semedo - Liquid error (snippets/template--article__comments line 10): The format option 'month_day_year' is not a supported format.
Tudo verdade! Carinho, boa disposição, música, dança … e empatia! Sorriso lindo!!! 🌸