História da Kizomba – Breve resumo que todos os professores de Kizomba devem conhecer
Estudar a História da Kizomba é um processo longo e com necessidade de dedicar algum tempo.
Neste artigo irás ler um breve resumo da História da Kizomba, que te permitirá ter uma visão mais ampla do assunto.
A PALAVRA
KIZOMBA é uma palavra do idioma angolano - Kimbundo - e significa “festa”.
Angola como ex-colônia de Portugal até 1975, viveu muitos anos de guerra civil depois disso.
A nova geração de músicos queria criar música nacional apenas para se divertir, sem qualquer mensagem política associada.
Eduardo Paim e o seu grupo - S.O.S - no final dos anos 70 começaram a misturar diferentes sonoridades altamente influenciadas pelo Semba, música caribenha, outras sonoridades africanas e inclusive música POP.
Os mais velhos de alguma forma não acharam muita piada, afirmando que o que eles estavam a fazer não era Semba. Então, quando foram questionados sobre o que era aquela música que estavam a produzir, a resposta foi muito natural, porque eles queriam que as pessoas se divertissem, batizando esta mistura com o nome de “KIZOMBA”, música para a festa.
PALOP
PALOP significa “Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa”.
Estes países são: Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Cada um deles tem os seus ritmos tradicionais e populares, mas é necessário enaltecer alguns deles quando falamos de “KIZOMBA”.
Angola —> Semba
Cabo Verde —> Coladeira
Guiné Bissau —> Gumbé
Moçambique —> Marrabenta
São Tomé e Príncipe —> Puita
A DANÇA
Em cada um dos PALOP mencionados anteriormente, todos têm as suas danças tradicionais e populares.
No início, em nenhum deles, a Kizomba estava associada a um estilo de dança. Inclusive, inicialmente quando se ouve falar de Kizomba, esta era associada a um estilo musical apenas proveniente de Angola.
O termo “Passada” foi o principal associado à forma de dançar a par em vários gêneros musicais.
Tanto quanto os nossos estudos revelam, a dança a par era muito minimalista, essencialmente com a base lateral e caminhadas. Foram os angolanos que começaram a ser mais criativos na evolução da dança a par com a criação da base em 3, assim como das “saídas” (saída da posição zero).
MÚSICA ZOUK
Em meados dos anos 80 vindo das Antilhas Francesas (Martinica e Guadalupe), a banda Kassav fez um enorme sucesso mundial, criando um novo estilo musical que foi batizado por Zouk, que também significa Festa em crioulo francês.
Foi a música “zouk la sel medikaman nou ni” (a festa é o único remédio que temos) que de alguma forma batizou este gênero.
Foi um sucesso tão grande internacionalmente, que o público naturalmente passou a exigir mais deste estilo. Instintivamente, também em África, várias bandas começaram a tentar produzir o seu próprio estilo de Zouk, misturando ritmos tradicionais e populares.
Em Angola, Eduardo Paim e S.O.S, iniciaram o “Movimento Kizomba” antes da aparição do Zouk, que de facto, foi uma grande influência. Esta “forma angolana” de produzir Zouk foi batizada como Kizomba. Da mesma forma que em Cabo Verde foi batizado como Cola-Zouk. Muitos outros países adotaram o nome Afro Zouk.
PONTO DE ENCONTRO EM PORTUGAL
Principalmente em Lisboa foi o ponto de encontro entre vários imigrantes dos PALOP. Pessoas à procura de melhores condições de vida, fugindo da guerra, para estudar…
Durante os anos 90 os Clubes Africanos e as festas de estudantes foram o local de convívio dos PALOP e de alguns portugueses, onde a palavra Kizomba começou a espalhar-se por toda a comunidade.
De forma orgânica, a palavra Kizomba passou a ser associada a um estilo de música e gradualmente a um estilo de dança.
Alguns puristas (ainda hoje) não concordaram com essa generalização do nome, mas as pessoas começaram a adotar esta designação.
PRIMEIRA GERAÇÃO DE PROFESSORES DE KIZOMBA
Até onde sabemos, o Mestre Petchu foi o primeiro a criar uma metodologia de ensino de Kizomba e a introduzir em estúdios de dança.
Mesmo para ele, no início, era estranho este conceito de ensinar Kizomba em formato de aula, sendo que, as pessoas estavam habituadas a aprender com os mais velhos em festas, apenas a ver e a imitar o que faziam.
Quando um grupo de pessoas lhe pediu pela primeira vez para ensinar em Portugal, ele conta que foi uma das suas piores experiências e sentimentos, porque não estava pronto e não sabia como partilhar o seu conhecimento em palavras.
Voltou para casa, pegou numa vassoura, começou a dançar espontaneamente e em simultâneo desenhava no papel os passos que fazia com a vassoura.
Assim, nasceu a primeira Metodologia de Ensino de Kizomba (até onde sabemos).
Primeira Conferência de Kizomba no Clube B.Leza (Lisboa) em 2005
Para além do Mestre Petchu, achamos importante citar outros nomes que iniciaram também este movimento em Lisboa: Tomás Keita (Guiné Bissau), Avelino Chantre (Cabo Verde), António Bandeira (Angola) – estas são as pessoas que aparecem na foto onde aconteceu a primeira conferência de Kizomba no clube B.leza, em 2005.
Também precisamos de mencionar Zé Barbosa e Waty (ambos de Cabo Verde).
Surge então uma segunda geração que teve uma grande responsabilidade ao tornar a Kizomba mais conhecida internacionalmente, juntamente com as anteriormente referidas.
Kwenda Lima, Iris de Brito, Nuno & Vanda, Paula & Ricardo (Afrolatin Connection), Benjamin Nande, Hélio Santos, Mandela.
(Atenção: é possível que existam alguns nomes não mencionados aqui, mas os acima referidos foram de facto alguns dos mais importantes naquela época)
OS FESTIVAIS
O Africadançar, que decorreu em 2008, foi o primeiro festival de Kizomba tendo associado ao evento uma Competição Mundial.
Este foi um marco importante, abrindo portas para a organização de mais festivais, contribuindo muitíssimo para a propagação da Kizomba.
Temos que dar crédito à comunidade da Salsa porque foi, sem dúvida, a primeira porta aberta para tornar a Kizomba conhecida internacionalmente, seja em escolas de dança ou em festivais.
Com o aparecimento de alguns programas de televisão portugueses a darem grande destaque à Kizomba, isso permitiu que este estilo musical chegasse ao público em geral fora das comunidades PALOP e de Dança, tornando-se main stream.
Estas músicas passaram a fazer parte do quotidiano do país, começou a ouvir-se Kizomba na rádio, na televisão, em lojas e até em discotecas de house.
NOVOS ESTILOS
No final dos anos 90 e início dos anos 2000, começaram a surgir novos estilos de música e, consequentemente, novas formas de dançar.
Em Angola surge a Tarraxinha e em Cabo Verde surge o Guetto Zouk.
Músicas mais modernas, com cadências mais lentas, batidas mais forte e seguindo as tendências mundiais do POP, Hip Hop e música eletrônica.
Em meados de 2013, com o surgimento de novas músicas altamente influenciadas por DubStep e Remixes, naturalmente a dança também sofreu alterações. Este é o início do estilo Urban Kiz.
Desde o início houve muitos estilos de dança diferentes, mas sempre foram chamados de Kizomba. Assim como, noutras danças sociais, (salsa, bachata, tango,...) houve a necessidade de criar nomes como Classic Kizomba, Urbankiz, Fusion e Tarraxó.