Ao longo da minha carreira profissional, vários são os pontos e os temas onde sempre tentei perceber, evoluir e reinventar, para que, dessa forma, eu próprio pudesse estar sempre preparado o melhor possível para as várias vertentes e ramificações que a minha área profissional oferece, assim como para as minhas próprias valências enquanto pessoa e profissional.

Ligado à competição desde os meus 14 anos de idade, cedo percebi que este “mundo” apresentava claras diferenças em relação ao então “mundo” oposto, o da dança social. Entenda-se que a nomenclatura apresentada é meramente uma classificação pessoal, baseada no senso comum e nas inúmeras opiniões escutadas, ao longo de mais de 20 anos de experiência.

As danças de salão, conforme as conhecemos nos dias de hoje são 10 no seu total, divididas em 2 grandes grupos, 5 ritmos pertencentes ao grupo das danças latino-americanas (Chá Chá Chá, Samba, Rumba, Paso Doble e Jive) e 5 ritmos pertencentes às danças modernas (Valsa, Tango, Valsa Vienense, Slow Fox Trot e Quick Step).

Desde sempre, quer por vontade própria, quer por obra do destino, estes dois “mundos” (o dança social e da dança de competição) sempre estiveram presentes de uma forma equidistante, ao longo da minha vida.

Considero que a parte social seja toda a vertente não competitiva, que nos leva para o lado descontraído da coisa, ou seja, claramente a competição é como qualquer outro desporto na sua vertente competitiva, isto é, exige disciplina na evolução da técnica específica, repetição exaustiva dos movimentos de dança, planos alimentares adequados, investimentos que podem ser muito elevados na aquisição de formação, material específico, neste caso sapatos, roupa, make up, etc., custos para as participações das diversas competições, nomeadamente os custos de deslocação e o valor das inscrições, renovações, etc. etc. etc. E de uma forma muito resumida, a vertente Social incide na parte divertida, ou seja, a aprendizagem da dança é única e exclusivamente para proveito e gozo próprio, normalmente praticada em contexto, lá está, social, seja num baile, numa festa, ou simplesmente na rua, com ou sem música. A dança pela dança, sem qualquer tipo de avaliação, pelo menos oficial, uma vez que em qualquer lado, basta estarmos a dançar com qualquer publico que seja para que surja a avaliação e a crítica, nem que seja apenas na cabeça do próprio “jurado”.

Posso até considerar um terceiro e um quarto “mundos” que acabam por se situar algo entre o social e a competição, são eles o show e a animação, isto porque shows e animações podem ser feitos por praticantes amadores, meramente por realização pessoal e diversão própria e alheia, mas ambas podem também ser realizadas por profissionais, e aí, como o próprio nome indica, estamos perante duas ramificações profissionais que a dança engloba.

Chegamos então ao ponto principal deste texto: social vs. competição. Mas então estes dois mundos são absolutamente separados? Quem pertence a um não pertence ao outro? As músicas não são iguais? Pois bem, correndo o risco de me alongar demasiado, tentarei ser sucinto. Eu, pessoalmente, mesmo antes de ser profissional de dança, sempre pertenci aos dois mundos, assim como acontece no presente, aliás, na minha opinião, os dois completam-se. Respeito a posição de todos, e se um competidor apenas quiser competir, tudo bem. Sim, porque é esta questão que se coloca. Obviamente, quem aprende as danças de salão numa vertente social, apenas terá essa forma de as pôr em prática, mas o competidor, que até aprende todas as danças de salão de uma forma mais detalhada, não se quer divertir e “curtir” dançando as mesmas porquê? Muitas questões se podem colocar. É do conhecimento geral que nos tempos que correm, muitas outras danças a par acabam por arrastar mais público para as pistas, como é o exemplo da Salsa, Bachata, Kizomba, Merengue, etc. Mas porquê? Serão estas danças mais fáceis? Serão os ritmos mais atrativos? Será que a prática destes ritmos é mais acessível, dançada em mais locais, logo mantendo a chama acesa? Não tenho respostas absolutas para tudo, mas tenho a minha opinião.

Poder-se-á admitir que um competidor de danças de salão apenas está interessado em sentir a adrenalina das competições e o prazer de evoluir mais e mais, com melhores e melhores resultados, e tudo bem... mas, depois este mesmo dançarino recusa-se ou não sente vontade de dançar socialmente as suas danças de salão, mas gosta de dançar socialmente uma Salsa, uma Bachata, uma Kizomba...

Na minha opinião, vários fatores contribuem para que a dança de salão social esteja em vias de extinção no nosso país:

• Os profissionais que ensinam as danças de salão, poderão fazê-lo de uma forma 100% direcionada para a competição.
• Os profissionais que ensinam estas danças, na sua vertente social, poderão fazê-lo de uma forma que tornam estas danças aborrecidas, sem interesse, e apenas praticáveis numa sala de aula, por exemplo com o ensino de coreografias apenas, ou de movimentos demasiado estilizados.
• As danças de salão conforme se conhecem atualmente, precisam de um “refresh” e de uma restruturação para que se tornem mais atrativas à vista e para quem as pratica, sendo que, algumas danças têm passos desajustados e de estilo antigo (não querendo ferir suscetibilidades), havendo mesmo algumas danças que nem fazem sentido para a prática a nível social por tão desajustadas da realidade e dos gostos atuais, como é exemplo o paso doble.
• As rivalidades entre escolas e instituições, devido à competição, não permitem a integração e o desenvolvimento das danças sociais, pois num país tão pequeno, com uma cultura de dança que está a evoluir muito, mas muito pequena em relação a outros países, se fecharmos as portas uns aos outros quem fica a perder somos todos!
• Falta de espaços e eventos que permitam a prática das danças de salão, que na minha opinião, deve-se ao efeito bola de neve, por todos os factos apresentados anteriormente. E menos praticantes, menos eventos... menos eventos, menor a montra para estas danças... e assim vamos por aí a baixo.

Através de projetos pessoais, e rodeando-me das pessoas certas e capazes, trabalharei para contornar esta situação, até porque, pela minha experiência pessoal, estes dois mundos tão distintos e tão complementares precisam-se entre si.